Antes de apresentar no Facebook estas reflexões sobre os sete pecados capitais das injustiças sociais (de Mahatma Gandi) fiz um pequeno teste com uma afirmação para ver no que resultariam os comentários de forma a poder construir uma abordagem coerente e pudesse com isso também aprender alguma coisa sobre as ideias e conceitos que abundam sobre prosperidade.
“Não seja cínico agradecendo a Deus um carro topo de gama quando o seu semelhante clama ao mesmo Deus por um pedaço de pão. Ou qual dos dois adora o verdadeiro Deus?”
Ter afirmado isto provocou algumas reacções interessantes especialmente por causa do “topo-de-gama”. Eu acredito que Deus quer fazer-nos prosperar mas Ele não está interessado nos nossos topos de gama. Deus está sim com os seus olhos postos nos que sofrem e morrem de fome. É nisso que os que acreditam que a prosperidade vem de Deus, devem fazer: pôr os seus olhos e as suas prioridades no amor ao próximo e usar as suas riquezas como meio e não como objectivo.
Sou portanto forçado a concluir que a prosperidade que muitos invocam vir pela fé, é mais do que isso, uma questão de GRAÇA concedida por Deus, sem merecimento.
1º Riqueza sem trabalho
A Bíblia diz: “Melhor é o pouco com justiça do que as grandes rendas com injustiça” Provérbios 16:8
- Jogo;
- Indústria do sexo;
- Desonestidade;
- Exploração do trabalho alheio e infantil;
- Paraísos fiscais;
- e especulação imobiliária.
Deus não é contra as riquezas desde que elas sejam adquiridas honestamente e sirvam como meio para a resolução dos problemas da humanidade. Deus não criou este planeta só para alguns viverem bem e prósperos, esquecendo-se daqueles que não têm um pedaço de pão e água.
A exploração infantil, sexual e laboral, é uma das maiores vergonhas deste planeta a que Deus não fica indiferente nem deixará sem punição aqueles que cometem estes crimes.
Há pessoas que enriquecem através da burla, passam cheques sem cobertura, abrem falência de empresas sem cumprir com os seus compromissos, recomeçam noutro local e não pagam a quem cumpriu com a sua inteligência e trabalho.
“Ai daquele que edifica a sua casa com iniquidade, e os seus aposentos com injustiça; que se serve do trabalho do seu próximo sem remunerá-lo, e não lhe dá o salário.”
Jeremias 22:13
2º Prazer sem escrúpulos
A bíblia diz: “Pedis e não recebeis porque pedis mal, para o gastares nos vossos prazeres”. Tiago 4:3
A sociedade deste mundo ocidental nunca esteve tão egoísta. O prazer imediato tornou-se uma obsessão. As pessoas confundem prazer e posse de coisas, como se fosse prosperidade, com felicidade.
A sociedade vive na euforia do descartável, do fast-food. Esquecem-se que pessoas não são preservativos para usar e deitar fora. O prazer conseguido sem escrúpulo, seja casa, carro, ou sexo, são vaidades fruto de um egoísmo desmedido.
Os que acreditam que Deus amou o mundo de tal maneira a ponto de enviar Jesus para salvar os mortais, também precisam de aceitar que as vaidades que Deus nos permite que tenhamos não fazem de nós preferidos dos milhões que padecem de fome! Agradecer a Deus esses bens esquecer os que não nada têm, faz-me pensar se Ele não pensará de nós como maus mordomos das Suas riquezas.
Pelo menos, os pregadores deveriam de chamar vaidade àquilo que é vaidade: "Vaidade de vaidades, diz o pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade." Eclesiastes. 1:2
Acredito que Deus nos quer fazer prosperar, mas mais do que isso Ele deseja que sejamos bons mordomos. Deus enviou Jesus para que a humanidade fosse salva e alguns estão a usurpar isso em benefício exclusivo, dizendo mesmo que Jesus veio para eles serem ricos e prósperos.
Pedir mal é pedir para gastar nos prazeres. Nesta sociedade hedonista as pessoas procuram coisas e esquecem-se das pessoas.
Tiago (4:4) diz-nos para escolhermos ser amigos do mundo ou amigos de Deus. Logo, para ser amigo de Deus você tem que ser amigo dos que sofrem. O amor a Deus prova-se em acções concretas em benefício dos que precisam de nós.
3º Pecado: Comércio sem ética
A Bíblia diz: “A balança enganosa é abominação para o Senhor; mas o peso justo é o seu prazer.” Provérbios 11:1
O comércio funciona na lógica de oferta/procura. Se há muita oferta o preço baixa, se há muita procura o preço sobe. Se os juros bancários descem os preços dos bens imóveis sobem, se os juros sobem o preço dos imóveis desce. Nunca me esqueci deste conceito elementar que aprendi na minha infância.
Quando se trata de negociar com países pobres, onde há muita escassez muita procura, os países ricos, que têm excedentes poderiam colocar preços mais justos facilitando o escoamento dos seus excedentes e não sobrecarregá-los com endividamento que nunca poderão pagar. Mas não é isso que acontece e por isso ficam cada vez mais pobres.
As leis, mesmo nos países ricos, deveriam favorecer os mais desprotegidos.
Muitos empresários quando se apercebem que o seu produto vai aumentar de preço na origem retêm a sua mercadoria para depois a vender com o novo preço do mercado.
Hoje as pessoas não se preocupam com o que é justo quanto mais cuidar do próximo. Só querem o seu próprio conforto e se possível lucro de 100%.
4º Pecado – Política sem idealismo
A Bíblia diz: “Abominação é para os reis o praticarem a impiedade; porque com justiça se estabelece o trono.” Provérbios 16:12
Lembro-me que a seguir ao 25 de Abril de 1974 este país ficou cheio de idealistas e eu também abracei uma ideologia. Hoje em dia a grande maioria de nós percebe que o ideal dos políticos mudou bastante: para o seu prestígio pessoal e favorecimento dos seus amigos.
Conheço pessoalmente, quem descaradamente me disse que foi para a política por interesses pessoais e até foi eleito. Conheço pessoalmente, mais do que um, que foi traído por disputas de poder dentro do próprio partido.
Há ainda aqueles que fazem leis para favorecer determinados negócios fazendo surgir “novos-ricos” – os amigos. Basta que alguém um dia faça sair uma lei que nos obrigue a usar qualquer acessório no automóvel e logo um amigo bem preparado para o negócio tirará o melhor proveito.
Um facto lamentável no nosso país é que os governos trabalham para a sua reeleição mais do que para a prosperidade do povo. O primeiro ano é gasto a desmontar decisões do governo anterior e no último não se tomam decisões nenhumas porque não se sabe o que virá a seguir.
Este mundo precisa de pessoas honestas que façam as coisas certas. Dá impressão de que quem está no poder, por saber que o futuro está comprometido com este galope inflacionário e de endividamento público, não toma decisões justas, pois sabe que será removido de rapidamente do seu trono.
5º Religião sem misericórdia
A Bíblia diz “Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios.” Mateus 9:13a
Religião sem Jesus é arrogância moral. Se falamos com Deus todos os dias, também diariamente deveríamos dar pão a quem não o tem.
Hoje em dia por este mundo fora as pessoas continuam a fazer sacrifícios físicos e financeiros em favor da ostentação da religiosidade.
A religião impôs regras, dogmas, acrescentou leis tal como foram fazendo os judeus depois de Moisés e até Jesus.
Conta-se que a rejeição de Gandhi ao cristianismo nasceu de um incidente acontecido na África do Sul, quando ele era um jovem advogado por lá. Gandhi estava atraído pela fé cristã; tinha estudado a Bíblia e os ensinamentos de Jesus. Estava explorando seriamente a possibilidade de tornar-se um cristão, quando decidiu assistir um culto em uma igreja local. Mas, assim que subiu os degraus, o ancião da igreja, um sul-africano branco, barrou seu caminho na porta.
- Onde você pensa que vai, kaffir? Perguntou o ancião em um tom de voz arrogante.
Gandhi replicou: Eu gostaria de assistir ao culto.
Mas o ancião resmungou: Não existe lugar para kaffirs nesta igreja. Fora daqui ou eu chamarei meus assistentes para atirá-lo escada a baixo.
…
Moral da história: uma Igreja Cristã onde falta o amor de Cristo, não é Igreja, mas sim um túmulo para a fé alheia, pois uma primeira impressão ruim, é difícil de ser apagada.
Texto extraído de: http://blogueiroscristaos.blogspot.com/2007/11/mahatma-gandhi.html
“Porque o juízo será sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia; a misericórdia triunfa sobre o juízo.” Tiago 2:13
A sociedade foi sendo construída à volta do bem efémero e da cobiça de adquirir. Prosperar continua na ordem do dia e a aquisição de coisas uma obsessão.
6º Concentração sem distribuição
A Bíblia diz: “Ai dos que ajuntam casa a casa, dos que acrescentam campo a campo, até que não haja mais lugar, de modo que habitem sós no meio da terra!” Isaías 5:8
Deus quer que sejamos prósperos? Sim. Mas Ele quer que a nossa riqueza seja instrumento de justiça na vida de outros. Seja JUSTO e honesto com os bens que lhe foram dados pela graça de Deus.
A prosperidade de muitos continua a ter como indicadores os bens que possuem mas faltam-lhes os valores que provam que as suas riquezas foram conquistadas de uma forma digna e séria, ou mais que não seja, falta-lhes provar que os merecem. Em contraste, quando eles repartem um pedaço de pão com alguém, fazem uma grande propaganda como se estivessem a dar de comer a todo o mundo.
Percebemos como a sociedade se está a organizar na concentração de riqueza através da união das grandes empresas e bancos. A opinião de Deus sobre essa “concentração” é muito clara: se você quer agradar a Deus distribua.
“O divertimento dos grandes é engolir os pequenos”, alguém disse.
“Propôs-lhes então uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produzira com abundância; e ele arrazoava consigo, dizendo: Que farei? Pois não tenho onde recolher os meus frutos. Disse então: Farei isto: derrubarei os meus celeiros e edificarei outros maiores, e ali recolherei todos os meus cereais e os meus bens; e direi à minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe, regala-te. Mas Deus lhe disse: Insensato, esta noite te pedirão a alma; e o que tens preparado, para quem será?
Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.”
Lucas 12:16-21
7º Ciência sem humanismo
A Bíblia diz: “… muitos correrão de uma parte para outra, e o conhecimento se multiplicará.
Daniel 12:4b
A ciência e a tecnologia desenvolveu-se de uma forma extraordinária nos últimos anos proporcionando melhores condições de vida, longevidade, saúde e lazer. Mas não para todos.
O desenvolvimento da ciência proporcionou a prosperidade mas também o supérfluo e o desperdício. Deus abomina este egoísmo.
Pessoas agradecem a Deus pela sua prosperidade e dizem que isso foi alcançado pela fé, e também acredito que sim. Mas coloquemos as mesmas pessoas com meia dúzia de peças de roupa em cima do corpo e noutro meio ambiente deste planeta onde não há água nem tecnologia e deixemo-las exercer a sua fé para ver até onde vai a sua prosperidade. Sinto-me no direito de ter este atrevimento até porque o Haiti está tão perto dos Estados Unidos e os pregadores da prosperidade não põem lá os pés. Só quando outros lhes abrirem o caminho é que com certeza irão lá.
Presentemente, os países mais prósperos deste planeta têm recursos suficientes para acabar com a fome no mundo, facilitados pela existência de um meio importante, que é a tecnologia industrial de produção e transformação. Mas não o fazem.
É caso para dizer que a prosperidade de muitos está na razão directa das circunstâncias favoráveis em que vivem e que foram conseguidas depois do pioneirismo de outros, os quais foram, esses sim, sem dúvida, bafejados pela graça de Deus.
Se a prosperidade que temos fosse reconhecida de facto como vinda de Deus, então não seríamos tão egoístas nos nossos gastos supérfluos e desperdício.
“Ai de vós, doutores da lei! porque tirastes a chave da ciência; vós mesmos não entrastes, e impedistes aos que entravam.”
Lucas 11:52
….
Para concluir termino com a seguinte conclusão de definição do que pode ser Sodoma: Aglomerado de pessoas injustas que não estendem a mão a quem precisa, contudo, satisfeitas com o seu pão paz e prosperidade.
Ezequiel 16:49 “Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: Soberba, fartura de pão, e próspera ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado.”
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