terça-feira, 3 de setembro de 2013

O africano que temia a Deus


Ebede-Meleque entra em cena num dos momentos mais angustiantes da história hebraica. O Reino de Israel quase não existia e o de Judá estava prestes a ser destruído.

Por teimosia o povo entregava-se à idolatria e aos pecados mais horríveis. Os príncipes e os sacerdotes mentiam e espoliavam os pobres, e os falsos profetas desmentiam as palavras de Jeremias. Embora ele tudo fizesse para que seus compatriotas voltassem a observar a Lei de Moisés, ele recebia pelas suas profecias escárnios injúrias. Só não o mataram, porque Deus o guardou.

Nesta mensagem veremos como se deu o encontro entre o profeta e o etíope. Veremos ainda como Ebede-Meleque socorreu Jeremias e lhe preservou a vida.

I. A ORIGEM DE EBEDE-MELEQUE

Acerca de Ebede-Meleque pouco sabemos. Os capítulos 38 e 39 de Jeremias dão-nos poucas informações. Sabemos apenas que ele era etíope e eunuco. Apesar da escassez de dados Ebede-Meleque destaca-se pela sua coragem e piedade.

1. Etíope: 

Os etíopes são mencionados 21 vezes nas Sagradas Escrituras: 20 no Velho e uma no Novo testamento. Como nação, os etíopes posicionaram-se diversas vezes contra Israel. Individualmente, todavia, deixaram-nos testemunhos relevantes.

Ebede-Meleque é um dos etíopes mencionados pelo nome nas Sagradas Escrituras (Jr 38.7). Não se sabe quando ele chegou a Judá mas talvez tenha sido comprado pela corte real, pois o comércio de escravos era muito comum na antiguidade. Como se vê, a origem de Ebede-Meleque era humilde. Mas que importa? Deus usa as coisas que não são, para confundir as que são (I Coríntios 1.27).

Ebede-Meleque deixou um exemplo de coragem tão brilhante que jamais será esquecido. Não importam as nossas origens ou a tradição de nossa família pois para Deus o que conta mesmo é a disposição com que nos colocamos ao seu serviço.

2. Eunuco: 

Ebede-Meleque era eunuco (Jr 38.7). Isto é, ele era um homem privado de sua virilidade. Segundo o próprio Cristo explicou, há três espécies de eunucos:
  • os que já nascem assim, 
  • os que foram castrados pelos homens, 
  • e os que se “castram” a si mesmos por causa do reino dos Céus. 

(Mateus 19.12).

Não sabemos em que categoria se enquadrava Ebede-Meleque mas de qualquer forma ele sofria muitas restrições. Por exemplo ele não podia entrar no santuário de Deus (Dt 23.1).

Não podia portanto exercer um sacerdócio. Apesar de tudo, este virtuoso etíope temia a Deus e naquele momento tão difícil da nação hebraica, professou de forma abnegada uma irresoluta confiança em Deus.

II. O MINISTÉRIO DE EBEDE-MELEQUE

Em hebraico, Ebede-Meleque significa “servo do rei”.

Do texto bíblico, entretanto, depreendemos que o etíope era antes de mais nada, um fiel e dedicado servo de Deus. Só um fiel servo de Deus exerceria com tanta dedicação a sua função na corte real: onde as intrigas eram semeadas do nascer ao pôr-do-sol; onde a injustiça campeava e a corrupção tornava-se tão comum; onde o nome de Deus era profanado e a sua Lei, vilipendiada.

1. Servo do rei.

A Bíblia não diz há quantos anos Ebede-Meleque servia ao infeliz Rei Zedequias. Mas levando-se em conta a intimidade que o etíope desfrutava junto ao rei podemos supor que ele se encontrava ao serviço da corte há muito tempo.

Como se conclui depressa ele tinha sido despojado da sua nacionalidade e do seu verdadeiro nome. Naquele tempo, os reis costumavam mudar os nomes de seus cativos para que fossem cortados todos os elos entre estes e seus países de origem como aconteceu com Daniel e os seus amigos. (Daniel 1:6,7).

E por falar nisto, vezes sem conta, os não-crentes ímpios tentam cortar os laços que nos prendem á igreja.

2. Servo de Deus.

Ebede-Meleque mantinha sua fé em Deus apesar do péssimo testemunho da casa real e do desvario generalizado do povo hebreu. A sua fé era sólida. Enquanto os judeus se inclinavam diante dos falsos deuses, o virtuoso etíope adorava o único e verdadeiro Senhor. Por isso, ele pode ser considerado, antes de mais nada, um servo do Deus de Abraão. Então temos: um estrangeiro adorador do Deus verdadeiro e um povo de Deus adorador de deuses falsos.

E foi como servidor de Jeová que se expôs e intercedeu pelo encarcerado Jeremias. Não nos esqueçamos portanto das nossas responsabilidades: antes de sermos servos dos homens, somos servos de Deus e agindo fielmente, receberemos os nossos galardões.

III. EBEDE-MELEQUE SALVA A VIDA DE JEREMIAS

1. A prisão de Jeremias. 

O profeta foi lançado no calabouço porque suas palavras desagradaram à classe dominante. Enquanto os falsos profetas anunciavam promessas fáceis de paz e prosperidade, ele apregoava a palavra de Deus:

“O que ficar nesta cidade morrerá à espada, à fome e de pestilência; mas o que for para os caldeus viverá; porque a sua lama lhe será por despojo, e viverá. Assim diz o Senhor: Esta cidade infalivelmente será entregue na mão do exército do rei de Babilônia, e ele a tomará” (Jr 38.2,3).

Com a displicência de Zedequias que reinava nessa altura, pois não tinha qualquer autoridade sobre os seus súbditos, os príncipes prenderam o profeta

“e o lançaram no calabouço de Malquias... mas no calabouço não havia água, senão lama, e atolou-se Jeremias na lama” (Jr 38.6).

2. A intervenção de Ebede-Meleque:

A notícia da prisão do profeta chegou aos ouvidos do etíope que imediatamente resolveu intervir para salvar-lhe a vida. Que corajosa decisão!

Jeremias 38.7.

Em primeiro lugar, Ebede-Meleque expôs-se a ser apanhado pelos mesmos malfeitores. Ele estava decerto consciente de que a sua intervenção em favor do profeta poderia acarretar-lhe sérios problemas.

Mas não temeu os riscos, Sabia que estava a agir corretamente. E quantas vezes nós não nos "acovardamos" temendo perder posições, empregos, e calamo-nos?

Em segundo lugar, usou a sua influência junto ao trono para promover a libertação de Jeremias. Como seria bom se o exemplo deste africano fosse seguido com mais frequência nos nossos dias?

Na verdade ele pode ter exposto a sua vida em risco duas vezes: aos malfeitores e ao próprio rei por ter cometido o atrevimento de lhe fazer um pedido. Ele era escravo, lembremo-nos.

Ebede-Meleque salva a vida de Jeremias: 

Perante a exposição do eunuco, Zedequias resolveu ajudar o profeta e atendendo à solicitação de Ebede-Meleque o Rei concedeu-lhe 30 homens para ajuda-lo a resgatar o profeta. (Um indicador interessante de como a situação era realmente delicada e denuncia a falta de autoridade do rei.)

“E tomou Ebede-Meleque os homens consigo, e foi à casa do rei, por debaixo da tesouraria, e tomou dali uns trapos velhos e rotos, e roupas velhas em bocados, e desceu-os a Jeremias no calabouço por meio de cordas... e puxaram a Jeremias com as cordas, e o tiraram do calabouço; e ficou Jeremias no átrio da guarda” (Jr 38.11-13).

Assim, a vida de Jeremias foi preservada. Que o Senhor nos ajude a agir como Ebede-Meleque com coragem e determinação. Deus não nos deu um espírito de covardia! O nosso espírito é de fortaleza, de amor e de moderação (II Tm 1.5).

IV. O GALARDÃO DE EBEDE-MELEQUE

Quando a destruição de Jerusalém estava próxima o Senhor ordenou a Jeremias que entregasse a seguinte mensagem a Ebede-Meleque:

“Assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel; Eis que eu trarei as minhas palavras sobre esta cidade para mal e não para bem; e se cumprirão diante de ti naquele dia. A ti, porém, eu livrarei naquele dia, diz o Senhor, e não serás entregue na mão dos homens perante cuja face tu temes. Porque certamente te salvarei, e não cairás à espada, mas a tua alma terás por despojo; porquanto confiaste em mim, diz o Senhor” (Jr 39.16-18).

No ano 587 a.C., Nabucodonosor entrou em Judá, destruiu o santo templo e levou milhares de cativos à Babilônia. Houve mortes e destruição. Ebede-Meleque, no entanto, nada sofreu. O Senhor dos Exércitos preservou-lhe a vida.


Se andarmos segundo a vontade de Deus, nada sofreremos também. Portanto, vamos agir de acordo com a Palavra de Deus pois no devido tempo, teremos o nosso galardão. 

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