domingo, 20 de março de 2016

O pai que eu não tive

 

As redes sociais, ontem, dia 19 de Março de 2016, encheram-se de mensagens deliciosas, de saudade e de omissões.

Estes são daqueles dias que trazem a uns boas memórias mas a outros as piores recordações. Mesmo que alguém queira esquecer "o pai" ou o "dia do pai", hoje em dia até as redes sociais estão aí para nos lembrar disso. 

Pessoalmente tenho e dizer do meu pai que foi um bom pai. Do meu pai ouvi histórias sobre o meu avô e que lhe marcaram a vida para sempre. Essas experiências foram um ensino e uma aprendizagem que me ajudaram a entender melhor o que seria a família ideal que eu sonhava um dia vir a ter. Tenho também de reconhecer que as condições económicas e sociais de outros tempos não permitiram a muitos serem bons pais e ter dado aos seus filhos, por má formação ou superior impossibilidade, o direito de ter sido crianças ou um futuro melhor.

Mas depois de reflectir sobre o que li ontem vem-me à memória algumas questões:

  • Se será possível que todas aqueles posts bonitos e mensagens de texto que foram distribuídas (sem ser publicadas), também possam ser reproduzidas verbalmente...;
  • Lembrei-me daqueles que se esconderam de comentar e guardam um rancor reprimido do pai canalha que tiveram, negligente, violento, traidor, que abandonou a família;
  • Lembrei-me dos que perderam o seu pai demasiado cedo e dos que descobriram na sua infância de que aquele a quem chamam pai afinal não é quem os gerou;
  • Lembrei-me dos pais que se arrependeram de não terem sido bons pais, de ter abandonado a mulher e os filhos, e dos que estão na prisão.

Lembrei-me também do pai pródigo, uma parábola dos tempos modernos e do tema paternidade, uma mensagem que ministrei muitas vezes nos “Encontros com Deus”. Durante a nossa vida de ministério somos inúmeras vezes confrontados com testemunhos de dor e ressentimento contra pais, e de pais arrependidos que gostariam de poder mudar a sua história. 

Há ainda os “pais” que nunca o foram porque concordaram ou forçaram as suas esposas e companheiras a fazer um aborto e agora sofrem porque perderam a oportunidade de ver o rosto do seu filho e ouvir a voz de uma criança chamar-lhe "Pai". E há ainda aqueles que sofrem porque um dia o seu filho clamou “Pai” e ele recusou-se a ouvir e atender.

Os hebreus têm no seu costume familiar intitular os todos os seus ascendentes de “Pai”. Pai é o ascendente direto, o avô, o bisavô, o pai Abraão e por fim, e no início de tudo, Deus O Pai. Algures na sua história de vida eles conseguem encontrar alguém que foi um "bom pai". E olhe que na Bíblia há pais que não são exemplo para ninguém.

A boa notícia é que há sempre um PAI disponível que espera que o seu filho chame pelo seu nome e tenha a coragem de clamar “Abba Pai”, "Pai Amoroso", "Pai querido", ouve-me, ajuda-me, perdoa-me.


Para todos aqueles que não tiveram a oportunidade que eu tive de ter um bom pai e não publicaram posts bonitos no "dia do pai", aqui vos deixo o meu caloroso abraço e desejo profundo de que possam encontrar em Deus O PAI que aqui na terra vos foi roubado a oportunidade de o ter.

Samuel Dias

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