terça-feira, 15 de março de 2016

Os Des Organizados


"Estou farto da minha igreja. O pastor não me visita, não me telefona, nem sabe que eu existo. Estou cheio de problemas e como não a tenho ajuda que eu quero acho melhor ficar em casa, ler e orar com a minha família. Mas como eu conheço alguém que também não está satisfeito com a liderança talvez seja interessante convidar essa família e assim poderemos fazê-lo juntos."

E assim surgiram os "desigrejados". Ops, desculpem, não devemos colocar rótulos nos outros mas como tenho de dar um título a este blog, resolvi escolher "Os Des Organizados".

Não quero ser malicioso. E garanto-vos que não me dediquei a perder muito tempo com esta nova "denominação", que não querendo, embora desorganizados, são, nem que seja pela utilização do nome. E como desejamos o melhor futuro para todos os habitantes desta terra nunca saberemos, como aconteceu no passado, o que virá a seguir. Pode ser até que se tornem vítimas das suas próprias queixas.

Facto. Estas coisas acontecem um pouco por todo o lado porque não há lideranças perfeitas, há lideranças que erram; não há pessoas perfeitas e há pessoas que erram. Portanto deixemo-nos de queixumes uns contra os outros e esforcemo-nos por fazer uma boa obra, coisa que, desorganizados, nunca conseguiremos.

Facto. Isto já aconteceu antes e mais do que uma vez. Quando estive na Alemanha em 1990 congreguei durante quatro meses com um grupo de irmãos que se tinham demarcado do "sistema religioso tradicional" começando a reunir-se nas casas. Bom, com o tempo eles acabaram por se organizar, começar a levantar ofertas, a fazer um hinário, a alugar salas, a comprar instrumentos musicais, cadeiras, etc... É sempre assim, quando alguma igreja, ou movimento, fica estagnada, com razão ou sem ela, alguns desvinculam-se, agarram-se ferozmente a alguns versículos bíblicos e aí vão eles.

Esta nova onda de "crentes anti sistema" tem uma nova característica: eles fazem das redes sociais o seu púlpito. Não gostam do púlpito do templo mas têm vários: no youtube, no facebook, nos blogs, nos e-mails, etc... Basta uma câmera, um computador, um acesso à internet, uma conta, e já está: mais um pregador e se isso não bastar, um apóstolo! O ímpeto para fazer propaganda é de tal ordem que eles colocam nos seus próprios vídeos e tags de pesquisa "desigrejados". Portanto, não se ofendam por favor...

A fundamentação mais rudimentar e mais citada é esta: "Nós é que somos igreja não o templo!" Mas onde está a novidade? Essa descoberta fez com que deixasse de congregar? Outro argumento igualmente sem sentido é: "Deus habita nos nossos corações não em templos feitos por mãos de homens!" E quem disse o contrário? Eu aprendi estes conceitos na Escola Dominical deveria ter uns 7 ou 8 anos e depois disso aprendi e continuo a aprender muitas outras coisas.


Ora, se ambos, nós que congregamos e os que reunimos em casa, afirmamos as mesmas verdades qual a razão para o surgimento dos "desigrejados"?

Parece haver três razões principais para que isto aconteça:
  • As maioria das lideranças nas igrejas evangélicas já não estimulam o povo à leitura da Bíblia. Na verdade muitos pastores também perderam o hábito da leitura diária;
  • As igrejas não têm dinâmicas suficientes que preencham as necessidades de todo o corpo;
  • Pela falta de um discipulado consistente muitos crentes com um enorme potencial são desperdiçados.

É um "vira o disco e toca o mesmo". Alguém disse, procurando explicar os fenómenos de afrouxamento e dinamismo dos grandes movimentos do passado que: "a igreja perde a sua força quando os seus crentes se transformam em monumentos".

Apesar de ter que afirmar que algumas argumentações dos "desigrejados" são uma completa tolice de má interpretação bíblica e de falta de conhecimentos de hermenêutica, que se podem contrapor com muita facilidade com outros versículos que falam de comunhão, de reunião nas sinagogas e nos templos, ect... também tenho que reconhecer, como faço sempre, que a responsabilidade desta "cisão" é mais uma vez das nossas lideranças.

Nós precisamos tanto de congregar como precisamos de nos reunir em nossa casa, no culto doméstico, no grupo familiar, etc...

A nota mais negativa para o grupo dos "Des Organizados" vai para a arrogância com que fazem a sua defesa: "Eles querem é os nossos dízimos!". Outra característica é que não gostam da argumentação que que advoga em favor de comunidade, assembleia, reunião. São contra qualquer ajuntamento ou celebração colectiva de cristãos. Mas o facto é como já referi antes, que os cristãos primitivos se reuniam nas casas também se reuniam em templos e sinagogas FEITOS POR MÃOS DE HOMENS. Combater as reuniões de celebração conjunta é uma novidade que nunca se viu antes na história da Igreja, que eu saiba.


Exemplo do que lhe pode acontecer se discutir doutrina com um destes irmãos
O comportamento de alguns adeptos deste novo movimento de púlpito de internet têm uma linguagem muito agressiva e recorrem com frequência a "bocas", "indiretas" e "insinuações" para "quem quiser que enfie a carapuça", coisa pouco própria de quem se diz cristão. Este, é decerto um excelente indicador de que estes irmãos deveriam estar sentados aos pés de um mestre, contudo, ao fazer uso da internet como se fosse uma arma de fogo, julgam-se muito poderosos.

Não vou citar versículos bíblicos de advertência contra "falsos mestres", os mesmos versículos que eles usam contra os que lutam para preservar a unidade do corpo ou como que querendo "puxar a brasa para esta sardinha", pois sabe-se mesmo sem Bíblia que a árvore boa é aquela dá fruto bom. Eu poderia cobrir o meu corpo com versículos bíblicos para os outros verem mas se não vivesse nenhum deles isso para nada aproveitaria.

Este é um movimento que apenas serve para nos distrair da mesa principal, do pão, do vinho, da comunhão, das orações e do amor entre os os irmãos. É evidente que a Igreja que é igreja não irá capitular com este tipo de estratégias e ataques por mais dissimulados que sejam ou que venham travestidos de versículos bíblicos.

Não deixemos por isso de amar os nossos irmãos e ao mesmo tempo corrigi-los.

Samuel Dias

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